Mil cento e dezenove.
Esse é o número de curtidas da foto mais popular de Agatha Rios no Facebook.
Uma menina aparentemente comum, que tira fotos no espelho para colocar nas
redes sociais, vai ao salão se embelezar e sai à noite com os amigos. O
diferencial da moradora do Moradas do Itanhangá (condomínio localizado em
Jacarepaguá) é que, na verdade, ela é um menino.
De olhos verdes e batom vermelho,
Felipe (seu verdadeiro nome) conta que se sente uma mulher. Definida como
transgênero (pessoas que nascem com um corpo característico de um sexo, mas se
sentem, desejam e agem como o sexo oposto), Agatha é super popular em Rio das
Pedras, comunidade que fica a cerca de quatro minutos do prédio onde mora. As
redes sociais são o reino da celebridade local: ao acessar sua conta, mais de
30 notificações saltam da tela, entre solicitações de amizade, mensagens e
curtidas em fotos ou status.
Ela, que vê em sua
atitude, seu corpo e seu estilo os motivos da popularidade, nunca imaginou que
um dia seria tão feminina. Meio sem jeito para falar sobre a época em que se
assumiu homossexual, Agatha diz que foi aos 15 anos de idade. “No comecinho foi
difícil, né... Mas a minha família aceitou e, quando eu me dei conta, já me
vestia completamente igual a uma mulher. Antes eu já usava uma coisinha ou
outra de menina, sabe... Uma sapatilha, um tênis rosa, um relógio mais
enfeitado e por aí vai”, conta.
Apesar de carregar a
imagem da garota de atitude, pessoalmente Agatha é mais tímida. “Minha vergonha
já me fez perder tanta coisa, preciso perder um pouco da timidez”, confessa. No
entanto, sua paixão por roupas, maquiagem e calçados acaba captando a atenção
de quem estiver a sua volta. Seja na rua, no shopping ou na internet, as pessoas notam seu gosto por
moda. “Sou gostosa, mas não sou burra. De que adianta ter um corpo lindo se a
cabeça é oca?”, questiona.
Agatha se mostra satisfeita consigo
hoje. “Tem garoto que me zoava há três anos atrás e hoje pede para sair
comigo!”, diz, entre risos. Polêmica, a jovem de 17 anos não cansa de usar a
rede para distribuir indiretas: “Tem muitos que adoram zoar os gays na frente dos amigos, para depois
vir correndo atrás da gente. Tem aquelas meninas que discriminam a gente, mas
muitas delas não sabem com quem o namorado tá saindo de madrugada!”, desabafa.
Sobre o preconceito, ela
diz que já sofreu muito, mas que hoje em dia não se incomoda com isso. “Antes,
eu passava na rua e via pessoas falando de mim, mexendo comigo, e ficava ‘pê da
vida’. Hoje eu tenho me dou mais valor, sou mais básica e ignoro essa gente
ignorante, quem são eles para querer me julgar?”, pondera.
Em uma fase mais calma,
ela fala sobre o passado sexualmente agitado: “Já fui muito a favor do sexo sem
compromisso, pois ser livre e independente e a melhor coisa, né, mas hoje
prefiro namorar. Amo sair e qualquer homem que eu namore precisa aceitar isso!”
Agatha tem orgulho de
ser quem é, como é. Ainda mais com as mensagens que recebe. “Muita gente posta
no meu ask (site de perguntas,
anônimas ou não) ou no face falando
que me admira pela minha coragem de me mostrar. Também já me disseram que eu
dei coragem para a pessoa ‘sair do armário’ e se jogar!”, revela. Mas a imagem
que ela cria na web às vezes é
prejudicial. “O povo fala que eu sou metida, só porque eu me visto bem e ando
na rua séria, sem ficar rindo. A minha timidez é muito grande... Na maioria das
vezes as pessoas falam comigo, e eu nem lembro quem elas são, aí dizem que me
conhecem do Facebook, elogiam as fotos, sempre tem alguém...”, explica.
Com seu sucesso virtual
ligado diretamente a sua aparência, seu corpo é de extrema importância. “Não
malho, mas pretendo malhar muito. Adoro dançar. Acho que é o que ajuda mais. Nunca
tomei hormônio feminino, porque dizem que pode causar câncer. Quero colocar
silicone quando for maior de idade... Mas nada muito exagerado, e tudo com
calma, para não sair nada errado”, fala a adolescente vaidosa.
A relação com a família foi muito
importante para ela. “Minha mãe, Andreia, é a minha base de força! Ela me
defende de tudo e de todos! Meu padrasto é um amor, me aceita numa boa, me ajuda
financeiramente e me trata bem. Ainda tem a minha avó, que é alguém que jamais
deixarei de amar... Não tenho nada a reclamar da minha família!”, conclui.
Com a internet como aliada, a mudança para Del
Castilho, que deve acontecer dentro de alguns meses, não assusta a moça, que
poderá manter contato com seus amigos. Contudo, ela prevê que sentirá muita
falta da vida em Jacarepaguá, com todas as suas noitadas.
Agatha Rios nada mais é
que um retrato de jovens homossexuais que tem coragem suficiente para dar a
cara à tapa. Apoiada na família e nos amigos, conseguiu o que muitos querem
ter, mas não alcançam: o sucesso, a plenitude e o bem-estar consigo mesma.