Crônica - Amor e Exposição

Fonte: http://riitamacedo.tumblr.com

Por Fernanda Estrela

Quando você se entrega para alguém, tem que ser para valer. Nada de ficar com o pé atrás. Você quer? Não tem que ter medo, tem que se jogar e aproveitar cada instante do que tiver que acontecer. É disso que a vida é feita afinal, certo? Momentos. Respiração. E, talvez, a perda dela também, o sexo, a falta de ar.

Quando uma garota se entrega, sempre é pra valer. Por mais que ela diga que não e que "Bah, foi só mais um casinho" ou "Coisa de uma noite só", na hora H, entre as quatro paredes, ela está completamente entregue aos braços daquela pessoa que lhe faz companhia.

Mas tem gente que não entende isso. Tem gente que é como Pedro, que achou que a umazinha dele, tinha o mesmo significado pra Julia. Ah, a Julia. Ela comprou uma linda lingerie, numa dessas lojas caras que a gente vê no shopping, e ainda passou no sex shop para ver se encontrava algo que pudesse dar um UP na noite que teria com Pedro.

Os dois eram amantes, Julia tinha só 19 e ele uns 30 e tantos. Ela estava deslumbrada com a relação, e Pedro aproveitando que tinha uma novinha para a sua umazinha. Julia tinha uma filha, ele, três. Ela amava e se entregava para ele, ela confiava nele. Ele brincava com ela.

A noite enfim chegou! No meio do rala-e-rola, naquele motel que Julia detestava, mas Pedro dizia que tinha que ser lá, já que só assim sua mulher não veria o carro, o estranho pedido: "Posso te filmar?". Choque, apreensão e, enfim, entre beijos e palavras carinhosas dele, o consentimento. "É só para eu me divertir um pouquinho", finalizou.

Entre quatro paredes, com alguém em quem você confia, quem se importa com as amarras da sociedade? O que importa o "Isso é coisa de puta" ou "Nossa! Eu nunca faria isso!" das amigas recalcadas e mal resolvidas sexualmente? Porque ah, elas fazem sim e talvez bem pior! Só não tem coragem de assumir.

Julia, bem resolvida e conhecendo bem seu amante, fez tudo o que ele mais gostava e, durante 13 segundos, foi filmada por ele. Apenas 13 segundos. A ação que deixaria qualquer cara louco, os lábios macios dela onde ele bem queria e enfim, saindo da boca rosada o oferecimento daquilo que ele mais desejava. Então, o fim do vídeo. E o fim de toda a dignidade de Julia.

E daí que ela o amava? E daí que estava ali se entregando para ele? O que importava para Pedro era mostrar o que ele possuía. Pedro postou numa rede social o vídeo, mostrou para quem quisesse ver o que tinha acontecido na noite passada.

Ele era agora o grande garanhão, e Julia, ah, a Julia virou a puta, a prostituta, a vagabunda que estava se oferecendo para um homem casado. Porque é claro, ele foi obrigado a aceitar o que ela tinha a oferecer, ele não podia negar, ele seria... Menos homem se negasse, não é? Pedro também foi forçado a postar o vídeo, a mostrar o que tinha feito com ela, mesmo sendo casado.

Julia que era a ruim da história, certo? Julia entregou o seu corpo para um cara "confiável" e não teve pudores na hora de gravar o videozinho para ele se divertir depois. Claro, sociedade hipócrita, Julia realmente é a grande vilã de toda essa história.