quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Por Agatha Rios
Por Júlio César Ramos


Mil cento e dezenove. Esse é o número de curtidas da foto mais popular de Agatha Rios no Facebook. Uma menina aparentemente comum, que tira fotos no espelho para colocar nas redes sociais, vai ao salão se embelezar e sai à noite com os amigos. O diferencial da moradora do Moradas do Itanhangá (condomínio localizado em Jacarepaguá) é que, na verdade, ela é um menino.

De olhos verdes e batom vermelho, Felipe (seu verdadeiro nome) conta que se sente uma mulher. Definida como transgênero (pessoas que nascem com um corpo característico de um sexo, mas se sentem, desejam e agem como o sexo oposto), Agatha é super popular em Rio das Pedras, comunidade que fica a cerca de quatro minutos do prédio onde mora. As redes sociais são o reino da celebridade local: ao acessar sua conta, mais de 30 notificações saltam da tela, entre solicitações de amizade, mensagens e curtidas em fotos ou status.

Ela, que vê em sua atitude, seu corpo e seu estilo os motivos da popularidade, nunca imaginou que um dia seria tão feminina. Meio sem jeito para falar sobre a época em que se assumiu homossexual, Agatha diz que foi aos 15 anos de idade. “No comecinho foi difícil, né... Mas a minha família aceitou e, quando eu me dei conta, já me vestia completamente igual a uma mulher. Antes eu já usava uma coisinha ou outra de menina, sabe... Uma sapatilha, um tênis rosa, um relógio mais enfeitado e por aí vai”, conta.

Apesar de carregar a imagem da garota de atitude, pessoalmente Agatha é mais tímida. “Minha vergonha já me fez perder tanta coisa, preciso perder um pouco da timidez”, confessa. No entanto, sua paixão por roupas, maquiagem e calçados acaba captando a atenção de quem estiver a sua volta. Seja na rua, no shopping ou na internet, as pessoas notam seu gosto por moda. “Sou gostosa, mas não sou burra. De que adianta ter um corpo lindo se a cabeça é oca?”, questiona.

Agatha se mostra satisfeita consigo hoje. “Tem garoto que me zoava há três anos atrás e hoje pede para sair comigo!”, diz, entre risos. Polêmica, a jovem de 17 anos não cansa de usar a rede para distribuir indiretas: “Tem muitos que adoram zoar os gays na frente dos amigos, para depois vir correndo atrás da gente. Tem aquelas meninas que discriminam a gente, mas muitas delas não sabem com quem o namorado tá saindo de madrugada!”, desabafa.

Sobre o preconceito, ela diz que já sofreu muito, mas que hoje em dia não se incomoda com isso. “Antes, eu passava na rua e via pessoas falando de mim, mexendo comigo, e ficava ‘pê da vida’. Hoje eu tenho me dou mais valor, sou mais básica e ignoro essa gente ignorante, quem são eles para querer me julgar?”, pondera.

Em uma fase mais calma, ela fala sobre o passado sexualmente agitado: “Já fui muito a favor do sexo sem compromisso, pois ser livre e independente e a melhor coisa, né, mas hoje prefiro namorar. Amo sair e qualquer homem que eu namore precisa aceitar isso!”

Agatha tem orgulho de ser quem é, como é. Ainda mais com as mensagens que recebe. “Muita gente posta no meu ask (site de perguntas, anônimas ou não) ou no face falando que me admira pela minha coragem de me mostrar. Também já me disseram que eu dei coragem para a pessoa ‘sair do armário’ e se jogar!”, revela. Mas a imagem que ela cria na web às vezes é prejudicial. “O povo fala que eu sou metida, só porque eu me visto bem e ando na rua séria, sem ficar rindo. A minha timidez é muito grande... Na maioria das vezes as pessoas falam comigo, e eu nem lembro quem elas são, aí dizem que me conhecem do Facebook, elogiam as fotos, sempre tem alguém...”, explica.

Com seu sucesso virtual ligado diretamente a sua aparência, seu corpo é de extrema importância. “Não malho, mas pretendo malhar muito. Adoro dançar. Acho que é o que ajuda mais. Nunca tomei hormônio feminino, porque dizem que pode causar câncer. Quero colocar silicone quando for maior de idade... Mas nada muito exagerado, e tudo com calma, para não sair nada errado”, fala a adolescente vaidosa.

A relação com a família foi muito importante para ela. “Minha mãe, Andreia, é a minha base de força! Ela me defende de tudo e de todos! Meu padrasto é um amor, me aceita numa boa, me ajuda financeiramente e me trata bem. Ainda tem a minha avó, que é alguém que jamais deixarei de amar... Não tenho nada a reclamar da minha família!”, conclui.

Com a internet como aliada, a mudança para Del Castilho, que deve acontecer dentro de alguns meses, não assusta a moça, que poderá manter contato com seus amigos. Contudo, ela prevê que sentirá muita falta da vida em Jacarepaguá, com todas as suas noitadas.

Agatha Rios nada mais é que um retrato de jovens homossexuais que tem coragem suficiente para dar a cara à tapa. Apoiada na família e nos amigos, conseguiu o que muitos querem ter, mas não alcançam: o sucesso, a plenitude e o bem-estar consigo mesma.
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